sábado, julho 11, 2009

Tudo parecia já dito e as palavras estavam gastas.

Um vazio tomava o espaço da casa, e não havia remédio;
ele se alastrava, infiltrava-se em brechas, nas frestas de armários, nas bordas mal iluminadas, nos cantos mais secretos, na face dos espelhos, no mármore do parapeito...... inundava a casa como enchente imensa, maremoto, dia de temporal........ diluía as coisas mais concretas, tornando tudo impalpável, incolor, desfazendo papel em água morna, as cores se misturando como numa sopa fervente.......

E era tanto, que não mais cabia. E, não cabendo, ainda assim se afirmava. E doía.
Nada além do som daquele piano ao anoitecer da tarde fria, cinza, nada a dizer.

[echoes de pink floyd soando obsessivamente na sala]

E então alçar voo era como despir-se
um salto
um lapso
um rumo
um estalo

e sabendo-se nua havia que deixar o vento soprar
permanecente

nenhuma marca, nenhum engano
a pele lisa e solta era como renovada

alçar voo era novamente buscar verões,
as grandes portas como links secretos
nada que não tivesse antes conhecido

e então sentiria o gosto da areia
o gosto do sol
o gosto daquela fluência maior que o mundo
e de não se saber nada no imenso
mas sentindo tudo pulsante e pulsante como um poema de leminski
hai kais reluzentes
e voltar no tempo seria então como avançar ainda mais.....

um salto imenso no escuro e não seria a mesma pessoa. os olhos fechados se abrem quando sentem luz.... e galopante feito animal selvagem, as cenas pipocando em flashes, as cores misturadas em vozes soltas, galopante feito animal selvagem, desconhecido, entregando-se a alguma coisa visceral