quarta-feira, janeiro 17, 2007

Irrupção

Fernanda Shcolnik

Vozes barrando o tempo.
Em meio à chuva
vê-se ainda os largos passos
em reflexo
enquanto poças cor de prata
se dissolvem no cascalho.

O cinza das pedras toma a rua
e cores furtam vestígios de escuridão.
Vozes barrando o tempo
e ainda a maquiagem torneia
a pele manchada
de arroz e luzes.

Nem mesmo teu som mais profundo
alcança a distância dos passos da pele.
Ainda os vazios em ocos buracos
com vácuos lacunas -
deixadas pela borboleta da manhã.

E num dia aquoso a chuva desce
rente, ora paralela
vestindo seus lábios de uma lisura mansa
e morna
e de dores furtivas que encharcam
o tempo.

Entre as lacunas e vãos das paredes
as mais discretas borboletas se acanham
encolhendo as asas repletas de cor
entre os guarda chuvas que passam altivos
e onipotentes

desprovidos de qualquer compaixão:
uma luz seca e rala perpassa entre as brechas.
Os passos são largos, molhados,
aquosos
e perfumam as vilas por onde chegam
com suas barreiras de corrimão.