quarta-feira, dezembro 12, 2007

Esboço para adivinhação (ou Poema com um buraco no meio)

Tempo de chuva. Os nós da esteira não desenlaçam. Cores e luzes em explosão se enlaçam, se cruzam, em sonho acordado. Na névoa baça da chuva, cidade encoberta. Tranças da rede, crianças ausentes, sons dos carros nos cercam. Tudo agora recolhido em pequenos altares.

Tempo de chuva. As cordas se modificam a cada tom de voz. Janelas fechadas, paredes vedadas. Hoje não tem billie holiday, Caetano, harpas de marisa ou os violões. Impossíveis os acordes. Existência impassível num quarto

branco
quieto
perolado

Tempo de chuva sem estio. A lonjura do corpo invisível. Contorcendo-se em vão. Nenhum movimento traz a materialidade perdida. O tempo é sempre mais forte. Onda que apaga a areia. Restos de passos por debaixo da espuma. Tempo é espaço. Desentranhar os nós imediatos. Nada pode aplacar a dor.

A solidão quietante de uma tarde comum