Notas sobre você materializada
I.
A literatura dói, oprime
como o sutiã apertado que uso agora:
constante, frio, rendado e burocrático.
A literatura finge.
A literatura dói,
porque espreme os poemas, mas nada sai.
A literatura se torna uma sala de torturas quando a penso.
E deixa apenas uma pergunta, que não quer calar:
Quem explica a atitude literária?
II.
A literatura ri da minha cara,
enquanto a chuva cortante não para de cair.
Minha cara de nada ri, pois em tudo vê ausência dessa graça
e consegue apenas assistir a chuva,
essa que corta, fere, abre a pele,
tirando dela sangue sólido e remoldado.
Enquanto a literatura ri, minha cara fechada é árdua
e, ao mesmo tempo, fachada e
(infeliz) -
motivo de graça.