quinta-feira, março 30, 2006

Notas sobre você materializada

I.

A literatura dói, oprime
como o sutiã apertado que uso agora:
constante, frio, rendado e burocrático.
A literatura finge.
A literatura dói,
porque espreme os poemas, mas nada sai.
A literatura se torna uma sala de torturas quando a penso.
E deixa apenas uma pergunta, que não quer calar:
Quem explica a atitude literária?


II.

A literatura ri da minha cara,
enquanto a chuva cortante não para de cair.
Minha cara de nada ri, pois em tudo vê ausência dessa graça
e consegue apenas assistir a chuva,
essa que corta, fere, abre a pele,
tirando dela sangue sólido e remoldado.
Enquanto a literatura ri, minha cara fechada é árdua
e, ao mesmo tempo, fachada e
(infeliz) -
motivo de graça.

terça-feira, março 21, 2006

Oficina

Perco poemas nas madrugadas:
cansada, em transes profundos
deixo que o vento leve.
Ondas, sonolências ecoam
batem à minha porta
rasgando a pele.
Envolta
me entrego, presa já,
rendida.
Não me resguardo do vento,
essas gavetas soltas nas madrugadas.
Queria era virar papel
para um dia poder ser escrita.

terça-feira, março 14, 2006

Êxtase

Sinto uma semente dentro de mim,
que vai crescendo,
se esgarçando,
prestes a se abrir e
a me deixar louca.

quinta-feira, março 09, 2006

7 horas

O cheiro da manhã parece ter validade:
Quando muito, dura minuto.
(Reposto o cheiro da cidade)

quinta-feira, março 02, 2006

Quarta-feira

Hoje acordei azul,
mas você me botou cinza.

Lá se foi meu carnaval...