segunda-feira, agosto 28, 2006

Ímpeto

Fernanda Shcolnik

Foi em meio a passos largos
sem nenhum sinal da chuva

Foi num ônibus vermelho
pela rua São Clemente
em horário de almoço –
quando ouviam-se conversas de senhoras
pelas praças antigas

Naquele bairro inerte
uma janela aberta
jazia
iluminada
quieta:
latente

Podia-se prever
na imagem do estático
ventilador de teto
a iminência de um contato

Naquele Botafogo
tórrido
mulheres engravatadas
homens atrás dos bigodes
meninos invisíveis
chutam o tempo

configuram o ar seco
que pesa sob a claridade

Sentidos e ambiências
infotografáveis
se furtam a cada flash