domingo, fevereiro 12, 2006

Para Clarice

Não queria se prender a nada, mas o choro era iminente.
Sentir um vazio, fato comum uma vez na semana.
Queria aprender a amar de verdade. Um sonho.
Pensava em reter idéias soltas para ver se se amarravam.
No espelho oco, nenhuma imagem.
Sons da janela, apenas.
Aquela agonia retida no corpo era quase explosão,
reflexo do desconcerto.

Não podia decifrar o invisível. Disfarçava.
O resto: se danasse, não queria explicar.
Seu rosto tão invisível no mundo.
Quase não se tornava alguém, e era preciso sentir para ser.
Antes ter aquela dor, de fato,
que desaparecer para sempre.

E em toda a sua nulidade, ainda flores ornando janelas.
Nas noites de lua, retia-se ao claro do céu observando estrelas.
Não queria se prender a nada, mas as lágrimas ocasionavam.
Punha ainda flores nos parapeitos, perfumando a casa enquanto cozia.
Tudo tão inefável. Não podia mais com a sua janela.
Antes encenar a vida do que desaparecer
para sempre - ela pensava.
(E realizava)