Tempo
Fernanda Shcolnik
Alice pensava quieta por fora. Como era fácil entrar numa crise... Divagando sem rumo aparente, cerzia os caminhos numa fuga, nó imenso pintado no peito. Pensava em linha e agulha, quem sabe desfazê-lo pelo miolo? Pensava na água mais pura, quem sabe amolecê-lo em disfarce sutil, retendo os restos dos pingos nas mãos?
Agora, ela segura sua xícara branca pintada em azul. São flores da avó, dum tempo de porcelanas na varanda e dos sorrisos estampados em telas que secavam esquecidas, e secavam tanto que deixavam de ser. E aquela xícara em branco e céu lhe trazia o som tão tosco que saía do aparelho. As palavras da boca antiga que exagerava num batom tão claro, de festa, transbordando a boca fina e saliente que também ela havia herdado. O sol caía.
As unhas dos pés da avó eram vermelho sangue. Uma fortaleza de mulher retida em meio às unhas. No espelho buscava possíveis rugas ou sinais de um passado. Incompreensão pairando. O nó ainda não foi desfeito. Alice e suas cartas noturnas, caderno noturno de flores em sol. Perdida, pensa na sopa que não digere, na leveza forçosa, cúmplice: até banal. Rasgar-se em pétalas, quem sabe. Encontrar as fendas em meio aos nós que se multiplicam, as saídas do corpo tão coladas, acabadas sem deixar centelha. Ela torce o tronco num respiro.
A luz dissipada deixa as cores pelas cobertas. Os pés que as meias aquecem se encolhem, paradoxais, em busca da brisa. Da janela, o ar seco que o sol preparou. A cama desfeita, a vela apagada, os nós dos cabelos que nunca saíram da casa num dia insólito de abril. Crueldade as praias acesas em mar de outono, os olhos em brilho quase opaco, o sono. Pela varanda, imagens dos vestígios de porcelanas se quebram em vidro. Despedaçam. E a vassoura distante, ela nem sequer pensa alcançar. Quem sabe o vento não faz o serviço num dia de fluidos com gosto de azeite. Na noite, um olho se apaga dormente.
Agora, ela segura sua xícara branca pintada em azul. São flores da avó, dum tempo de porcelanas na varanda e dos sorrisos estampados em telas que secavam esquecidas, e secavam tanto que deixavam de ser. E aquela xícara em branco e céu lhe trazia o som tão tosco que saía do aparelho. As palavras da boca antiga que exagerava num batom tão claro, de festa, transbordando a boca fina e saliente que também ela havia herdado. O sol caía.
As unhas dos pés da avó eram vermelho sangue. Uma fortaleza de mulher retida em meio às unhas. No espelho buscava possíveis rugas ou sinais de um passado. Incompreensão pairando. O nó ainda não foi desfeito. Alice e suas cartas noturnas, caderno noturno de flores em sol. Perdida, pensa na sopa que não digere, na leveza forçosa, cúmplice: até banal. Rasgar-se em pétalas, quem sabe. Encontrar as fendas em meio aos nós que se multiplicam, as saídas do corpo tão coladas, acabadas sem deixar centelha. Ela torce o tronco num respiro.
A luz dissipada deixa as cores pelas cobertas. Os pés que as meias aquecem se encolhem, paradoxais, em busca da brisa. Da janela, o ar seco que o sol preparou. A cama desfeita, a vela apagada, os nós dos cabelos que nunca saíram da casa num dia insólito de abril. Crueldade as praias acesas em mar de outono, os olhos em brilho quase opaco, o sono. Pela varanda, imagens dos vestígios de porcelanas se quebram em vidro. Despedaçam. E a vassoura distante, ela nem sequer pensa alcançar. Quem sabe o vento não faz o serviço num dia de fluidos com gosto de azeite. Na noite, um olho se apaga dormente.
15 Comments:
Muito bonito!
ah, linkei voce lá no meu blog.
hellbar.blogspot.com
Interessante o texto, vc tem q escrever mais...
bjs
0tt0
p.s.(cof,cof"post novo" coff, coff)
Muito ótimo, ahn. Muito bem!
Imagético e sonoro, como deve ser.
Beijos.
eu gosto daqui =)
e gosto da sua compania matinal!!!
deviamos andar pela gavea mais vezes!! =PP~~
é, ou qquer outro lugar =))
"Agonia" foi a sensação mais presente em minha leitura do teu texto... na forma que Alice lida com a vida... até no jeito que para respirar necessita se retorcer.
Cheio de feeling.
E vc, por onde andas?? Aki em casa um guarda-chuva de ursinho pergunta por vc tb.
bjo na testa!
Lindo O TEMPO, muito lindo. Não me canso de admirar sua capacidade de criar imagens.. E parceria com Daniel Paiva, chiquerésima!! Beijos muitos
acho que eu já falei, ms eu li o texto de novo...
gosto das suas letrinhas =)
hoje eu vi alice de uma maneira diferente...
amo porcelana branca pintada de azul, é bobo, eu sei, mas eu gosto!!
ah! e eu esqueci de falar, o leo lembrava de voce sim, e o zé que ele perguntou é o zé alto que uma vez a luli me apresentou, seu amigo =PP~~
beijocas
oi lindaa
que saudade
feliz natal proceh
e agora eu vou ficar com muito ciume
se o proximo poema nao for com meu nome :P
beijo gigante pra voce...
Feliz ano véio, minha fia!
Manero te conhecer mas ce vc acha que eu vou parar de te sacanear por causa disso, estás muito enganada...
Bjs
0tt0
feliz ano novo mocinha linda!!!
siiim!!vou ver mais a nandinha em 2006!!!
(eu espero!)
ah! quero novos posts por aqui!! pode??? =PP~~
Nada novo não porra!
0tt0
êê maleta....
Estou em endereço novo. www.thiagoponce.blogspot.com
Quando der apareça.
E troque o link, rs! (homerbrain, etc.)
Beijos.
Postar um comentário
<< Home