quarta-feira, agosto 24, 2005

Carta de amor

Fernanda Shcolnik

Sentia-se pequena. Quando o ciúme chegava, pintava imensos envelopes em cartolina branca. Neles, escrevia: “CARTA DE AMOR”. Em vermelho.
O mundo era como uma incubadora, que sufocava, sufocava, matando aos poucos, sem ar.
Pegava o ônibus lotado, viajava de pé, cartolina em punhos e entregava ao homem: “CARTA DE AMOR”. Vazia.
Nela, apenas o envelope tentando dizer, talvez desculpar-se por sentimentos tão escondidos, que não se entendia o objetivo.
Onde estava a carta de amor nessa CARTA DE AMOR?
Apenas sentia-se pequena, e inventava coisas simples em papel com tinta, cores fortes, outras cinzas. Era o mesmo ritual. Sempre.
Sentar-se à mesa escura em madeira, acender um cigarro breve, restos de um outro dia, pingar no cinzeiro lento, calmamente, enquanto lá fora é chuva.
Restos de chuva pingada a esmo. Ouve-se ainda o som: da chuva, dos pingos, o grave silêncio que ocupa a casa, os prédios, a rua, bairro inteiro.
Um silencioso no meio do nada, pincel na boca enquanto imagina:
Escrever uma carta de amor, pois a paixão é grande e transborda, sujando o chão, chegando à sala, pairando como fumaça, fazendo desenhos no ar tão limpo...
Enquanto isso, ela ainda espera, sentindo ânsias de choro preso, espera um vômito, talvez um termômetro, para medir a saúde mental.
Ela, que era poeta, já virou prosa. As portas viraram janelas; o lápis, tinta; a carta, envelope.
Então, num estranho movimento, se embrulhou bem por dentro, bem fechado. Lacradinho. E pôs em volta uma fita bege, escrito: “pra presente”.

9 Comments:

Blogger Heitor said...

Um envelope talvez não seja um bom lugar pra se espremer:-(...

E menina, vc pode até ter virado prosa, mas ainda parece poesia.

25 agosto, 2005 01:03  
Anonymous Anônimo said...

hahahaha
Mas essa aí não sou eu não... quem disse?? =P

25 agosto, 2005 09:02  
Anonymous Anônimo said...

Mais uma vez imagens diferentes e que sabem exprimir o sentimento... Bj

25 agosto, 2005 15:44  
Anonymous Anônimo said...

Meu Deus, eu to cansado de pseudonimos em blog, e minha cara Fernanda, se vc não sabe eu tenho um nvo tipo de blog, o primeiro blog descentralizado do Mundo o meu blog se encontra nas páginas dos comments, dos blogs de todos que entram em contato com a página Pisandro, alguns acham que eu sou um vírus, outros acham que eu sou maluco, mas agora que aki cheguei eu acabo de fincar a minha bandeira e tornar este uma nova parte do meu blog...
Bjs
0tt0

26 agosto, 2005 15:04  
Blogger Heitor said...

Tem razão, não é vc, pelo menos naum inteira. Cometi o erro q eu costumo criticar:-/Mas que a sua prosa é meio poesia, é.;-)

O 0tt0 é o Guilherme, um velho participante do movimento lodista de quem vc talvez não se recorde... pq certamente vcs se conhecem ao vivo e não estão ligando o nome à pessoa.

26 agosto, 2005 17:47  
Anonymous Anônimo said...

Lindo texto. Lindo.

Teu link já está lá no meu blog. Volte sempre lá, pois estou sempre por aqui.

ps: não conheço a poesia de martha medeiros..... xiiiii to desatualizada mesmo heheheheh vou pesquisar...... bjs!

27 agosto, 2005 01:59  
Anonymous Anônimo said...

olá, menina! nem te vejo mais pela uerj e tal. estou numa correria só.
gosto também de suas prosas, contos, ahn. mas tenho falta das poesias. quando houver umas coloque por aí.
acho que deveríamos entrar mais nisso, digo, nós e a poesia.
beijos

thiago ponce

27 agosto, 2005 23:40  
Anonymous Anônimo said...

Lindoooooooooo!!!!!!!!!!

:)))))

Beijos, Mami

02 setembro, 2005 22:04  
Blogger Flávia Muniz Cirilo said...

Gostei disso!!!!
Beijo

06 setembro, 2005 20:29  

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