segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Uma tarde

Fernanda Shcolnik

Dedos rasgados da mão que escreve
suam na tecla bem mastigados.
Toda a pele acabada em traços:
pedaços rasgados comidos
qual trapos.

Resquícios da carne se espalham na sala
bóiam sobrados
por cantos da cama entre dobradiças e
pelas poltronas.
Retalhos deixados em forma de arestas
dobram cores e luzes.
Retratos.

Uma criança de olhos imersos
mira as janelas de um lado da sala.
Atenta escuta a chuva que corre
e a mão que insana escreve
sem pausa.

Pingos escorrem da velha marquise e
na venda da esquina
alguém atrasado
compra cigarros e
lê as notícias.
Os pingos palmados no chão indicam
quietude larga no apartamento.
Ao lado, o vão da escadaria sugere
caminhos implícitos em pingos e rastros.

5 Comments:

Anonymous Anônimo said...

ai, li esse "uma tarde" que lindo, principalmente aquilo que é mais chegado a mim como: "Retalhos deixados em forma de arestas/
dobram cores e luzes" e "Ao lado, o vão da escadaria sugere/
caminhos implícitos em pingos e rastros"e muitos dos outros que vc faz.Acho que esses desamparos me comovem mais do que qualquer voz poética. Abraços do Marcelo

15 fevereiro, 2007 15:43  
Anonymous Anônimo said...

Oi, Nanda. Tô com vontade de te mandar logo uns desenhos pra você fazer novos poemas! Quase terminei aliás a hq, falta só inserir os textos nas imagens!
bj!

18 fevereiro, 2007 13:09  
Anonymous Anônimo said...

Gostei desse texto, meio visceral...tá aprendendo, daqui a pouco tá escrevendo pro jogos mortais 4
Bjs
0tt0

19 fevereiro, 2007 18:26  
Anonymous Anônimo said...

Nanda voce arrebentou, tá poética tá demais, que forma linda e especial de olhar do mundo, gostei muito, manda mais pro Blog
bjo de um tal de wilson

02 março, 2007 23:34  
Blogger efa said...

adorei também.
cheiro de sangue, goshto.
beijos

10 março, 2007 15:12  

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