Monólogo de Ana
Fernanda Shcolnik
O córrego é sempre o mesmo.
Intacto, percebe tudo, assiste,
mora ainda em mesmos sítios, vaga na noite, parando estrelas.
O som tampouco muda.
Vejo o barco no rio calmo, como se fosse hoje.
Vejo ainda aquela quietude que a história sujou.
(A fuga dos generais ainda não acabou)
Vejo ainda, e ouço, os gritos de pavor.
A quietude reinante voltou.
Lembro bem de uns dias longos,
deixados, passados para trás,
trazidos por pensamentos felinos em dias que sinto cheiro de árvore,
chuva, pássaros.
Ver o córrego reluzente é mergulho em páginas velhas,
molhadas ainda daquelas águas matinais.
Intensas.
Quase que
impenetráveis.
2 Comments:
Amiga Poeta:
Adorei o início do seu texto: "O córrego é sempre o mesmo. Intacto,(...)". Você conseguiu fazer uma grande jogada contrapondo a filosofia de Heráclito, filosofo formulador da tese de que o univerrso é uma eterna transformação. É dele a máxima: um homem nunca se banha no mesmo rio duas vezes, pois o rio não é mais o mesmo e tampouco o homem.
Outra coisa, cada vez me impressiono mais com a feminilidade de seus poemas. Parabéns!
Já adicionei seu blog na lista dos meus favoritos.
Beijos
Rodriguinho
Você já leu Sidarta? Se não, recomendo fortemente...
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