quinta-feira, junho 02, 2005

Monólogo de Ana

Fernanda Shcolnik

O córrego é sempre o mesmo.
Intacto, percebe tudo, assiste,
mora ainda em mesmos sítios, vaga na noite, parando estrelas.
O som tampouco muda.

Vejo o barco no rio calmo, como se fosse hoje.
Vejo ainda aquela quietude que a história sujou.
(A fuga dos generais ainda não acabou)
Vejo ainda, e ouço, os gritos de pavor.

A quietude reinante voltou.
Lembro bem de uns dias longos,
deixados, passados para trás,
trazidos por pensamentos felinos em dias que sinto cheiro de árvore,
chuva, pássaros.

Ver o córrego reluzente é mergulho em páginas velhas,
molhadas ainda daquelas águas matinais.
Intensas.
Quase que
impenetráveis.

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Amiga Poeta:

Adorei o início do seu texto: "O córrego é sempre o mesmo. Intacto,(...)". Você conseguiu fazer uma grande jogada contrapondo a filosofia de Heráclito, filosofo formulador da tese de que o univerrso é uma eterna transformação. É dele a máxima: um homem nunca se banha no mesmo rio duas vezes, pois o rio não é mais o mesmo e tampouco o homem.
Outra coisa, cada vez me impressiono mais com a feminilidade de seus poemas. Parabéns!
Já adicionei seu blog na lista dos meus favoritos.

Beijos

Rodriguinho

05 junho, 2005 16:55  
Blogger Jubsky said...

Você já leu Sidarta? Se não, recomendo fortemente...

13 junho, 2005 14:40  

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