segunda-feira, abril 17, 2006

Casual

Quando te vi era Santa Teresa e seus olhos não eram mais os mesmos.
Sua boca não mais a mesma, nem as pernas, nem os lóbulos.
Convicta examinei os pés, na esperança de encontrar terreno
e seus pés, unhas, joelhos, todas as dobras,
que foi feito de você?, eu perguntava.
E tentando entender motivos, imaginava estar tudo esquecido
atrás das cortinas do apartamento,
escondido nas longas frases, distantes palavras, perdidas num naufrágio.
Quando te vi era Santa Teresa, uma ocasião peculiar
e as cores todas em seu redor desapareciam.
Eu não sabia mais cantar
e, na minha mudez, cheguei a pensar que não podia me lembrar de coisa antiga,
das coisas que vivi, do que brilhava firme em seus olhos de amendoim bem negros,
das imagens daquele inverno, tudo aquecido e evaporado em fumaça repentina.
Os meus pés eram imóveis.
Olhei ao redor, examinando tudo, não sabia as lembranças,
não mais as pessoas, as casas, o chão de pedras que nos rodeava,
tudo sumindo à minha frente e, súbito, a percepção maior,
você ali e o bairro inteiro em ocasião especial...
Quando te vi era Santa Teresa. Cidade em festa, emergindo balões.
Não só seu corpo, suas pernas e dobras, cotovelos, as unhas, os lóbulos:
Santa Teresa não era a mesma. E eu tentava analisar seu corpo...

1 Comments:

Blogger Edilson Pantoja said...

Ôpa! Gostei muito desta não Santa Teresa - ou será mesmo Santa Teresa?
Outros abraços de Belém!

20 abril, 2006 00:18  

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